Silêncio

O calendário já marca 20 dias daquela despedida. Sua ausência tem me incomodado e o silêncio que ela deixou é doloroso. A falta de passar depois do trabalho para saber das novidades, para confirmar se ela está seguindo a risca a dieta. E ligar todos os dias para saber o que ela está fazendo. Parece estranho, mas tenho visto o seu rosto diversas vezes na rua. Só são 20 dias, mas não vejo a hora de cruzar as fronteiras regionais para sentir o conforto do seu abraço.

A Natureza Selvagem de Chris

Provavelmente você já sentiu uma vontade muito grande de conhecer de perto aquele ator, cantor, escritor ou uma pessoa comum, sem grandes projeções, mas que a sua história lhe tocou profundamente. Eu sinto isso sempre. Tenho pessoas no meu coração, que acabei nutrindo uma relação tão forte de amor platônico, um sentimento fraterno que me faz querer estar sempre perto de alguma forma, seja através de uma foto, um livro, filme, e fico sempre em busca de novas informações que me remetam para perto dessa pessoa. É uma sensação de querer ter estado por perto, para pelo menos, trocar duas palavras.

Uma dessas pessoas é o Christopher McCandless. Se não fosse por John Krakauer, que escreveu o livro “Na natureza selvagem” (1996) e Sean Penn, que transformou o livro em filme (2007), provavelmente eu nunca teria conhecido a história de Chris, já que ele foi um garoto americano, de classe média, que na década de 90, após concluir a faculdade que seus pais queriam, largou tudo para pegar a estrada e passar uma temporada no Alasca. Até aí tudo normal. Mas o diferencial de Cris é que ele foi um cara surpreendentemente carismático e carregou durante sua vida todas as qualidades que eu admiro num ser humano, humildade, desprendimento material, coragem e muito amor pela vida.

capa do livro

Tenho interesse nesse tipo de gente. Sempre guardei uma certa inveja de ciganos, atores de circo e todos aqueles que não tem morada fixa. É uma vontade imensa de fugir de vez em quando, sabe? Desde pequena, planejava fugas, mesmo não tendo grandes motivos, nem a menor coragem.

E a ânsia de Chris pela liberdade o levou a entrar de cabeça no sonho de viajar sozinho. Ele entregou suas economias para uma casa de caridade, largou seu carro no meio do caminho e sem olhar para trás perambulou diversas cidades dos Estados Unidos. Além de livros de Jack London, Leon Tolstoi e David Thoreau e informações sobre caça e espécies comestíveis de plantas, ele levou poucos bens na mochila. Sem muito planejamento foi em busca do tal conhecimento interior e do entendimento sobre sua vida. “Mais que amor, dinheiro, fé, fama, justiça, dê-me verdade.” Thoreau.

Nesta andança, Cris conheceu pessoas que foram primordiais para conseguir chegar ao seu destino. Trabalhou para comprar poucos utensílios que seriam utilizadas no Alasca, ele queria viver da natureza e estudou algumas formas de sobrevivência, mas não sobreviveu.

Auto-retrato: foto clássica de Chris em frente ao ônibus abandonado


Chris chegou ao interior do Alasca, deu conta do seu próprio alimento, viveu de forma selvagem e subtraiu de um jeito tão bonito todas as vantagens oferecidas pela natureza.

Durante os três meses que passou no Alasca, Chris pensou, se conheceu e chegou a conclusão que a felicidade só é real quando compartilhada. Tentou voltar, mas não voltou. A natureza se deu conta de que ele fazia parte daquele meio.

Novidades

Li na revista Go Outside deste mês, que a família de Chris reuniu material inédito, com cartas, fotografias e postais e lançou o novo livro, “De Volta à Natureza Selvagem: As Fotografias e Escritos de Christopher McCandless”. Ainda sem tradução para o português, o livro foi lançado no mesmo local que o jovem passou seus últimos dias. No ônibus abandonado no Alasca, familiares e amigos que Chris conheceu durante sua caminhada, se reuniram para uma cerimônia em homenagem ao mochileiro.

Foto inedita que fará parte do novo livro

Imagens do filme

Apostas

É vontade de querer estar onde não se pode, querer fazer coisas que não estavam dentro da programação e de se encaixar em realidades fora do contexto. Não é um simples agir por impulso, nem assumir empreitadas ser ter condições alguma de cumpri-las, mas eu assumo e enlouqueço. No final as coisas acontecem, como num passe de mágica. É como se Deus balançasse a cabeça em tom de reprovação, mas diz, “deixa eu dar um organizada na vida dessa louca aqui”.

Vamos ver como consigo sair dessa última, que parece ser uma das maiores das minhas apostas. Vou na doida!