Insônia

Escuto o som da chuva lá fora. Paro, presto atenção com mais calma e percebo que não passava de uma vontade. Vontade enganada pelos ruídos da noite. Era o vento que soprava e balançava as folhas das árvores. A chuva era ilusão de uma cabeça sem sono.

Sem planejar e …

Sem planejar e para obedecer a vontade daquele momento, escolheu um dia atribulado para jogar tudo pra cima. Esqueceu que hoje era dia de faxina e deixou a casa completamente bagunçada. Não abriu e-mails, não ouviu o celular tocar. Passou da hora de comer e optou por todas as besteiras encontradas na geladeira. Dormiu às 13 horas e acordou renovada às 17 e continuou esquecendo que o mundo existe. A camisola foi o figurino para o dia inteiro. Amanhã as coisas entram novamente no eixo, afinal de contas, fugir de vez em quando é bom, ela indica.

dormir para quê?

Para uns quando a idade chega é hora de desacelerar mais, dormir mais e viver a vida de uma forma mais saudável. Para outros, e nessa eu me incluo, a melhor forma de aproveitar é vivendo. Cada dia mais eu tenho dormido menos e vivido de um jeito cada vez mais corrido. Acho que quero continuar nesse ritmo e assim eu vou mudando as regras do jogo.

Claro que dormir rejuvenesce, mas há mais ou menos dois anos tenho pensado que dormir é uma grande perda de tempo. Me aproximando da casa dos trinta aí então é que a reflexão bate.

Depois disso tudo, agora eu descobri que eu sou da noite. Talvez eu sempre tivesse sido, mas não atentei para isso. Na noite é que eu produzo, me inspiro, fico com um humor ótimo e nessa agitação toda é que fica difícil de dormir.

Por outro lado, pago um preço alto por essa minha ânsia de ganhar tempo. Posso ser vista cochilando em ônibus, bocejando loucamente às três da tarde e apagando literalmente quando de fato me deito para dormir.

Como disse uma amiga minha uma certa feita, “deixa para descansar quando morrer” e acho que o caminho é bem por aí. Enquanto eu tiver saúde e energia para me movimentar, organizar coisas, bagunçar, comer, beber, navegar na internet até altas horas, namorar e só se preocupar com o amanhã quando o amanhã chegar, para mim está valendo.

Meu passado era bem diferente

Na adolescência achava primordial ficar morgada na cama. Faltava aula porque não aguentava acordar cedo e já bati com a cara do portão da escola diversas vezes por causa de atrasos. Como a vida muda…

Desde outrora acordar cedo para mim era como um sacrifício extremo e nas primeiras horas da manhã era muito difícil ouvir minha voz. Mau humor absoluto.

Aquela velha historinha de ter que dormir oito horas por dia ficou para trás. Para a vida ficar ainda mais linda para mim, só falta adequar meu organismo com as obrigações do trabalho. Rezo para chegar um dia onde eu possa fazer meu horário e plim, tudo resolvido.

Prazer, meu nome é Milena!

Sou contra chamar pessoas por apelido ou por diminuitivos do nome, isso só funciona para familiares próximos para não gerar um compromisso de no caso de um desentendimento, voltar a chamar pelo nome inteiro sem nenhum incômodo.

Creio que é antipático chamar uma pessoa a vida toda de Fred e depois da briga, caso você seja obrigada a continuar falando com essa pessoa, chegar e dizer, num tom seco, “oi Frederico, envie o balanço anual para meu e-mail.” Ou, no meu caso, chamo a minha sogra a vida inteira de Jó e de uma hora para outra ligo para a casa dela e digo, “bom dia, Joseana, a senhora me empresa sua bolsa?”. Fica chato!

Tento muito fugir dos apelidos, nem sempre se consegue já que tem nomes que é quase um afronte não considerar o seu diminuitivo. Diminuitivo esses que já tomaram o lugar da identidade. São exemplos de Leonardo (Léo), Poliana (Poli), Keitiane (Keyti), Gislene (Gil), Driele (Dri)… Tem gente que conheço, que nem o nome verdadeiro sei, como é o caso da minha bisavó Duzinha.

Minha sorte é conviver com pessoas que se chamam originalmente de Ive, Isa, Ana, nomes pequenos ou aqueles outros que dispensam apelidos, como Cosme, Alan, Nelson, Célia, Adson, Ciro.

Outubro e suas relações com a minha vida

O mês de outubro sempre me pareceu muito agradável. Seja pelo fato de ter aquela áurea mágica de final de inverno e início de primavera, ou por se ter o Dia das Crianças, que me remete à boas lembranças, ou simplesmente por eu ter nascido.

Em uma das escolas que eu estudei tinha a Semana da Criança. Eram os dias mais esperados do ano. Com um bilhete no diário, a professora avisava a nossos pais e/ou responsáveis, que deveríamos levar roupas de banho. O colégio tinha uma mini piscina que ficava desativada o ano inteiro e só funcionava na Semana da Criança. Eu, a menorzinha da turma, nem me incomodava de não saber nadar – ato que até hoje não aprendi – a piscina não oferecia risco algum de afogamento. A vantagem da Semana da Criança era trocar o biquíni, tomar banho de mangueira e fazer filinha para dar uma “volta” na piscina.

Com certeza a programação não era essa em escolas ricas, mas isso nem passava pela minha cabeça. Só sabia que a minha escola era a melhor de todas e naquela semana eu me achava a criatura mais feliz do universo.

Outro motivo que me faz gostar do mês de outubro é pelo fato de eu ter nascido. Gosto de ser escorpiana, de ter vindo ao mundo no décimo mês do ano, de fazer anos na estação das flores e de achar que esse é o mês que mais tem a ver comigo. Mas as vezes o outubro bagunça minha vida e fica uma relação bem estranha. Anos entro num inferno astral cabuloso, em outros, é um paraíso inexplicável. Esse ano ainda não sei como vai ser, mas tenho todos os motivos para festejar minha nova primavera!

Primeiro segundo domingo de agosto

Os domingos em geral tem aquele gosto amargo, mas esse em especial desceu travando. Não bastou ser um domingo, mas o primeiro segundo domingo de agosto que eu não passo ao lado do meu pai.

Infeliz é aquele que inventou datas como essas. É para fazer as pessoas se culparem, se deprimirem e deixar tristes aqueles que não podem estar perto de seus pais, ou se podem, não tem como comprar um presente. É uma puta falta de sacanagem!

Como meu pai está no norte e eu no nordeste, não pude dar aquele costumeiro abraço de domingo de manhã. Era certo acordar um pouco mais cedo e pegá-lo assistindo o Esporte Espetacular para dar o presente de Dia dos Pais. Esse ano não foi assim, mas não sou a única a ter que lidar com a distância. O bom é saber que logo, logo posso abraçar meu pai novamente.

Silêncio

O calendário já marca 20 dias daquela despedida. Sua ausência tem me incomodado e o silêncio que ela deixou é doloroso. A falta de passar depois do trabalho para saber das novidades, para confirmar se ela está seguindo a risca a dieta. E ligar todos os dias para saber o que ela está fazendo. Parece estranho, mas tenho visto o seu rosto diversas vezes na rua. Só são 20 dias, mas não vejo a hora de cruzar as fronteiras regionais para sentir o conforto do seu abraço.

Apostas

É vontade de querer estar onde não se pode, querer fazer coisas que não estavam dentro da programação e de se encaixar em realidades fora do contexto. Não é um simples agir por impulso, nem assumir empreitadas ser ter condições alguma de cumpri-las, mas eu assumo e enlouqueço. No final as coisas acontecem, como num passe de mágica. É como se Deus balançasse a cabeça em tom de reprovação, mas diz, “deixa eu dar um organizada na vida dessa louca aqui”.

Vamos ver como consigo sair dessa última, que parece ser uma das maiores das minhas apostas. Vou na doida!

Tudo certo

De uma forma ou de outra, as coisas por mais impossíveis que pareçam sempre se resolvem para mim. Diversas situações sem saída encontram a luz no fim do túnel e eu me considero sortuda, graças a Deus.

Isso é só para explicar que eu já resolvi minha situação com meu cachorro. Tudo foi possível graças a minha irmã que aceitou a agradável companhia do meu filhote lindo, carinhoso e semi-educado. Depois de muito chororô consegui que Mariana viesse morar no prédio vizinho ao meu e agora eu estou ainda mais próxima do meu dog. Antes e depois do trabalho levo ele para passear. Então para ele ficou ainda melhor e para mim também, que além de estar perto da minha hermana, também estou com Pípi. Obrigada a todos pela torcida!

Mães que pegam a estrada

Hoje, domingo das mães um filho acordou a sua e toda a vizinhança com a música cantada por Roberto Carlos, “Como é grande o meu amor por você”. Depois que fui despertada fiquei analisando a cara da mãe com essa homenagem, como se comportaria aquela criatura durante os três minutos da música? Será que aquele filho é legal, presente ou tudo aquilo era uma palhaçada sem fim para chamar atenção?

Mais tarde, enquanto caminhava para a casa da minha mãe vi um policial, meio envergonhado, com um arranjo de flores nas mãos. Até achei bonitinha a cena. Vi também, pessoas brigando com outras pelo celular, sobre quanto deveria ser pago pelo almoço do dia das mães.

Faço questão de estar sempre com minha mãe. Não há um só dia que eu não telefone para ela, não mande uma mensagem, não apareça de repente durante a semana para saber se está tudo bem e aos domingos é certa minha presença.

Quando me mudei, minha mãe não acreditou. Soube por minha irmã que muitas lágrimas rolaram naquela sexta-feira que eu não voltei para casa depois do trabalho. Minha mãe sabia desde sempre a data que eu me mudaria, mas não deixou a ficha cair. “Ela já foi?”, perguntou e desmoronou em seguida.

Li agora esse texto do Xico Sá, sobre os filhos saíram da barra da saia da mãe e caíram na estrada. Sempre acreditei que seria assim comigo um dia. Visualizava a cena romântica da despedida na rodoviária, o sacudir das mãos e o choro. Não fui muito longe.

Só que as coisas se inverteram e quem vai é ela. Dessa vez nem consigo imaginar como será a despedida, apenas sinto o coração bem apertado.